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Jeane MartinsPublicado em:
"O transporte ferroviário, que já foi protagonista da infraestrutura brasileira no passado, pode estar prestes a retornar ao centro das atenções com uma mudança significativa. "
Firmado no último dia 30, o acordo revisa os contratos de concessão de duas importantes ferrovias brasileiras: a Estrada de Ferro Carajás, que conecta o Maranhão ao Pará, e a Estrada de Ferro Vitória a Minas. O entendimento estabelece o repasse de R$ 17 bilhões por parte da Vale, distribuídos da seguinte forma:
R$ 4 bilhões serão transferidos imediatamente à União;
Outros R$ 7 bilhões serão repassados em uma segunda etapa;
R$ 6 bilhões serão destinados à construção da Estrada de Ferro 118.
A Estrada de Ferro 118, também conhecida como Anel Ferroviário do Sudeste, é um projeto estratégico que visa interligar os portos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo à malha ferroviária nacional. Inicialmente, a obra beneficiará 13 municípios — 10 no Espírito Santo e 3 no Rio de Janeiro —, com expansão prevista para atender até 24 cidades.
O investimento promete trazer ganhos significativos para o Brasil. A expansão e modernização das ferrovias devem melhorar o escoamento da produção industrial e agrícola, reduzindo custos logísticos e aumentando a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. Estima-se que centenas de milhões de reais em bens passarão a ser transportados pelos novos trilhos, diminuindo também a dependência do transporte rodoviário, que é mais caro e poluente.
O ministro dos Transportes, Renan Filho, destacou o impacto social do acordo: “Firmamos hoje um entendimento histórico com a Vale S.A., que vai injetar mais de R$ 17 bilhões na infraestrutura do Brasil. Essa repactuação demonstra a solidez da parceria entre a gestão federal e o setor privado, crucial para ampliar os investimentos em nossa logística.”
Apesar das expectativas positivas, o acordo não está isento de polêmicas. Durante o governo anterior, contratos ferroviários de empresas como Vale, MRS e Rumo foram renovados de forma antecipada, levantando questionamentos sobre os valores pactuados. A administração atual considera que os montantes pagos foram “muito aquém do razoável”, especialmente considerando que os contratos garantem a exploração desses ativos por mais de 30 anos.
As empresas, por sua vez, argumentam que as repactuações podem representar uma quebra de contrato e trazer prejuízos financeiros significativos. O Tribunal de Contas da União (TCU) ainda precisa avaliar e validar os termos do acordo.
Atualmente, o Brasil depende majoritariamente do transporte rodoviário, que responde por cerca de 60% da logística nacional. Essa dependência eleva custos e contribui para maiores emissões de carbono. Em contraste, as ferrovias oferecem uma alternativa mais barata, eficiente e sustentável.
A expectativa é que o aporte bilionário impulsione o setor ferroviário, aumentando sua participação na matriz de transporte brasileira. A longo prazo, uma malha ferroviária moderna pode transformar o Brasil em um hub logístico de relevância internacional, facilitando a circulação de mercadorias e promovendo o desenvolvimento regional.
Enquanto os trâmites burocráticos seguem, os brasileiros aguardam ansiosamente pelos frutos desse acordo histórico. A pergunta que fica é: estaremos prontos para aproveitar essa oportunidade e transformar nosso sistema de transporte?